A Sabedoria da Experiência: Por Que a Juventude Precisa de Fios Grisalhos
Em um mundo banhado por um mar de saberes dispersos e ideias de toda sorte, a juventude contemporânea está equipada para encontrar, quase que imediatamente, respostas e propostas para qualquer emergência ou vã curiosidade, munida de seu aparelho multifuncional. A evolução tecnológica nos trouxe, inegavelmente, um mundo maior e mais detalhado do que aquele pintado pelos conselhos e contos paternos.
No entanto, essa velocidade vertiginosa na aquisição de informações tem obscurecido um tesouro insubstituível. Não faz muito tempo, amparávamo-nos no conhecimento de quem ostentava mais fios grisalhos, buscando respostas elementares e vivências para nos contar. Embora nossos pais e avós não soubessem de tudo, sendo alheios às novidades da computação, não se tornaram obsoletos.
O viver humano é labiríntico. Podemos acumular dados sobre a história e a natureza das paredes desse labirinto, mas quem andou dolorosamente entre elas, sob a treva da dúvida e do medo, conhece algo além — algo que a mera informação não revela. É por isso que a sabedoria secular ecoa: “A beleza dos jovens está na sua força; a glória dos idosos, nos seus cabelos brancos” (Pv 20:29). A informação e o vigor da juventude não são suficientes para dispensar a experiência.
É neste ponto que a observação sagaz revela uma verdade fundamental: “Está perdida a juventude até que a experiência a mude.”
A Lição da Gaivota Velha
A vida, como um vasto oceano, exige mais do que apenas o fervor juvenil. Ela requer discernimento, paciência e a capacidade de ler os sinais que só o tempo ensina.
As gaivotas jovens, cheias de força bruta e sem instrução, podem passar a madrugada inteira rodeando o espelho salobro da laguna, voando e revoando sem contentamento, e permanecendo em jejum. Elas arriscam investidas lentas e fatigadas, mas erram os peixes e batem os bicos n’água.
Em contraste, a gaivota mais velha, serena e sapiente, age com precisão. Ela aguarda o momento certo, percebendo em suas patas as primeiras marolinhas do dia. Não se apressa: espera que o vento da manhã sopre os ramos das casuarinas e amendoeiras, e que as marolas encorpem. Somente então, num ruflar firme, alça voo a baixa altitude, esquadrinha as ondas e apanha sucessivamente o carapicu, até fartar-se.
Ao final da pesca bem-sucedida, a pescadora veterana compartilha o cerne de sua sabedoria: “Não basta acordar cedo.”
A metáfora é clara: é mais fácil aprender a pescar — ou a navegar nas ondas do mundo — com uma gaivota velha do que apenas com o vigor sem instrução da juventude. A experiência traz o timing — a arte de saber não apenas o que fazer, mas quando fazê-lo.
Essa profunda reflexão sobre o valor da experiência em face da força bruta é o mote central do conto “A gaivota velha”, parte da coleção Folha de amora e outros contos, de Jonas Grillo. A obra, classificada como literatura cristã e contos brasileiros, busca reacender o encanto pelas virtudes simples, permitindo que essas ideias floresçam no coração de quem lê.
-

Folha de amora e outros contos
Explore a sensibilidade e a riqueza dos contos de Jonas Grillo em Folha de amora. Uma obra essencial para amantes da literatura contemporânea que buscam histórias envolventes e emocionantes.
